quarta-feira, 6 de maio de 2009

OUTONO

Há um lugar para ser feliz

Além de abril em Paris

Outono, outono no Rio.

ED MOTTA; As Segundas Intenções do Manual Prático. Universal, 2000.

O verão tinha acabado... Graças a Deus! Com suas tempestades avassaladoras, a necessidade de estar em todos os lugares o tempo todo, descer para o litoral, estar com o corpo malhado, sarado, bombado. É o verão havia acabado.

E o suave outono com seu anoitecer mais cedo, o céu com um tom mais dourado, o friozinho ao entardecer; o outono havia se instalado com armas e bagagens no dia a dia. O outono é mais tranqüilo, sem pressa, sem dor. Os frutos do outono são mais doces, o amor é mais macio e parece que curtimos os vícios na hora certa e sem culpa. Aqui vale a citação obrigatória de Verlaine – les sanglots longs de violons de l ´automne¹; que prende na garganta um soluço de tristeza e decepção.

Queria poder viver em comunhão com a estação que agora se inicia. Ser mais leve, ser mais macio – mas o coração é mau! Meu e mau, e guarda dentro dele um demônio que nunca dorme e vive a me enganar.

A vida no outono segue mais devagar e nada tem tanta importância ou vale a pena, e nem nós mesmos temos a sensibilidade para desfrutar desse período do ano. No outono tudo que acontece vem de graça, é lucro. Um lucro que compensa o que perdemos nos anos já vividos. Um lucro que acrescenta um pedaço de paz a essa insensata guerra que é viver.

1. Os longos soluços dos violões do outono. Paul Verlaine; Chanson d'automne

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