quarta-feira, 6 de maio de 2009

Este texto foi escrito depois da leitura da bigrafia do escritor norte-americano Jack Kerouac. è uma crônica prá baixo e emio down. A vida às vezes se mostra ssim.

Abcs e bjs

Alex

Compreendi de repente que eu não tinha nenhum lugar para ir. Mas foi ao longo da viagem que se produziu a grande mudança da minha vida, o que eu chamei de ‘grande meia volta’ ... , passando de um gosto juvenil e corajoso pela aventura a uma náusea completa no que diz respeito à experiência do mundo em sentido amplo.

KEROUAC, Jack (2005) Viajante Solitário. Porto Alegre: L&PM.

Pode-se dizer muitas coisas sobre o escritor franco-canadense Jack Kerouac, um dos ícones da literatura norte-americana. Alcoólatra, toxicômano e um eterno solitário; ele, junto com o poeta Allen Ginsberg, foi um dos expoentes que no início dos anos 50 lançaram o movimento beat – a chamada beat generation.

Kerouac e seu amigo Neal Cassidy cruzaram os Estados Unidos em 1947, na primeira série de viagens que prosseguiram ininterruptamente por três anos. O relato dessas viagens se transformou em um livro chamado On The Road – Pé na Estrada. Reza a lenda que Kerouac escreveu o livro em três meses em uma bobina de papel, pois não queria interromper o fluxo de seus pensamentos, em 1951, mas o livro somente seria publicado seis anos depois em 1957, ou seja dez anos depois de sua aventura com Cassidy pela América.

Durante esse período em que viajou pelos Estados Unidos, Kerouac fez de tudo:

Passei este período escrevendo tudo que me vinha a cabeça, pulando em trens de carga e pedindo carona, trabalhando como guarda-freios em estradas de ferro, lavando pratos e limpando o convés de navios mercantes, servindo de vigia de incêndio para o governo, fora centenas de serviços variados.

Jack Kerouac in Os Escritores 2 – As Históricas Entrevistas da Paris Review (1989); seleção Marcos Maffei. São Paulo: Cia das Letras.

Com a publicação de On The Road em 1957, Kerouac conquista a fama imediata, mas o Kerouac que cruzou o país com Cassidy em 1947, não é o mesmo que em 1957 tem o seu livro publicado. Esse vácuo de dez anos entre a experiência vivida e a publicação do livro fez diferença,

pois há desejos que não podem esperar porque senão esfriam. No poema de Gonzaga para Marília de Dirceu ele diz; “As glórias que vêm tarde já vêm frias”.

Estamos sempre desejando viver o que já aconteceu, ou o que nunca irá acontecer, pois o tempo, o momentum já se passaram. Porém, como meninos que aguardam a menina mais bonita da rua dar bola para eles, continuamos a insistir e acreditar no que um dia foi um plano, um sonho, uma estratégia mirabolante que faça com que a vida de repente comece a dar certo e a tristeza vá embora por completo.

Já passei dos quarenta anos e não tenho mais nenhuma carta na manga do paletó, ou um novo coelho para tirar da cartola. O que eu desejava dez anos, vinte anos atrás já aconteceu, agora é sobreviver seja lá como for, ou como der. Estou na minha ‘grande meia volta’, como diz Kerouac. Perdi o gosto e o frescor da juventude por novas aventuras e desafios. Não sou o mesmo de dez anos atrás. Sigo a estrada sem muitos desejos ou vontades; sem muitas alegrias ou esperanças e sem nenhum lugar para ir.

Por isso digo, agarre com unhas e dentes o que você tem no momento, porque não há muita coisa lá fora. Não pense que existem um milhão de oportunidades, porque não há. Grude com força naquilo que você tem no momento, talvez não haja mais nada se você jogar tudo para o ar.

Talvez um dia eu volte a ter aquelas ganas de conquistar o mundo e não ligar para o que poderá acontecer, mas você sabe a vida é cheia de truques e, nunca se sabe o que poderá acontecer com o restante desse viagem que é a vida. Pode ser que uma centelha de gozo brilhe no meu plexo solar, e eu adquira novamente o furor juvenil; ou também pode ser que a brasa acabe de vez e, somente restem as cinzas para o vento levar.

Filosofia:

SONETO SIMÉTRICO

Será o pavão vermelho? Ora, direis,

este raio não cai mais de uma vez

no mesmo lugar – é a prova dos nove,

é Götterfunken, uma coisa arisca

só dada (e olhe lá!) a quem é jovem

que ainda guarda em si uma faísca.

Porém, passado o mezzo del camin,

às vezes uma luz fraquinha pisca,

e é como se sumisse uma neblina

que há muito esconde uma paisagem bela.

É ela, sim – pensa você – ali, na

sua frente. Ou talvez a parte dela

que ainda lhe cabe. Encha os pulmões de ar.

Goze esse instante. Ele não vai durar.

PAULO HENRIQUES BRITTO (2007) Tarde. São Paulo.Cia das Letras.

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