quarta-feira, 6 de maio de 2009

ELA PODERIA TER AJUDADO

Ela poderia ter ajudado, deveria nem ter ido.

Aquele encontro estava destinado a ser um fracasso. Ele era uma mistura mal acabada de idéias conservadoras e frases clichês de filmes B. E como ele a queria. Ele tentava agradá-la e conquistá-la, mas ela não estava nem aí. Ficava de olho no visor do celular esperando o próximo torpedo.

Ela, uma menina de 20 e poucos anos e tinha outros interesses na vida – Techno, baladas fortíssimas de sábado para domingo, Red Bull, bala e água mineral prá diminuir o calor. Ela tinha uma vida para viver e não queria perder o seu tempo com um loser.

Ela ficava de olho no visor do celular que, em vibra call, brilhava a cada nova mensagem de texto.

Ele era louco por ela e contava histórias de sua vida. Falava coisas como,

No meu tempo...

E dizia cantadas manjadas tipo,

Você é linda! Teu sorriso iluminou a noite! Estou louco por você! E a noite seguia.

Até que acontece a chamada que ela tanto esperava,

Hum hum

Silêncio.

Daqui a dois minutos

Mais silêncio.

Então ´tá, já estou saindo!

Ela cata a bolsa e o moleton, corre para a porta do apartamento, joga um beijo,

Tchau.

Ele tenta argumentar; Quem era? Quem ligou? O que aconteceu?

Mas era tarde demais; ela já estava ligada em outra.

Ela sai de cena para mais uma noite com muito ice na cabeça, trance bate estaca na veia, água mineral sem gás e rapazes parrudos e bonitos para lhe fazer companhia.

Ele fica na sua solitária identidade e na ressonância dos versos de Bandeira:

Não te aprofundes o teu tédio

Não te entregues à mágoa vã

O próprio tempo é bom remédio

Bebe a delícia de cada manhã.¹

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1. BANDEIRA, Manuel in A Sombra das Araucárias; A Cinza das Horas.

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