sábado, 28 de agosto de 2010

UMA MULHER APAIXONADA

*Este texto eu dedico a todos que não tem emdo de viver uma paixão.



UMA MULHER APAIXONADA
Do you believe in love at first sight?
Yes, I´m certain it happens all the time
What do you see when you turn off the light?
I can´t tell you but I know it´s mine
LENNON & McCARTNEY in With a little help from my friends

Já não sabia mais o que fazer pra chamar a atenção dele!
Eram cartões do Garfield, poemas molhados e respingados de paixão, olhares e olhares, convites diretos e declarados; tudo para mexer com a sua libido! Mas, ele nem sequer me notava...
E, num ato insensato e de loucura, enrosquei-me em seu pescoço e o beijei na boca!
No começo ele reluta – boca cerrada, mas aos poucos relaxa e a língua corre solta de boca em boca. Uma língua molhada e atrevida começa a ser invasiva, abre sulcos no meio dos dentes, alisa o céu da boca em busca de estrelas e cometas errantes.
Não sei bem explicar o que me aconteceu naquele momento. Eu que sempre fui menina pudica, acanhada e retraída fruto de uma rígida educação em colégio de freiras carmelitas; onde, meu Deus, onde, indago-me, arranjei coragem e ímpeto pra dar-lhe tal beijo?
Hoje bem sei que o que me fez dar um beijo assim do nada foi o desejo!
Isso é coisa que acontece quando existe muita adrenalina e tesão tirando racha dentro da corrente sanguínea!
Eu, naquele momento, não podia mais me conter, me refrear, me conter, lutar contra esse tal do desejo. Se eu me segurasse por mais um segundo que fosse, iria ficar louca, insana e rouca de tanto gritar o nome dele!
Aí iria ser uma confusão dos diabos!
Id brigando com o Ego e o Superego; Logos investindo contra o Pathos travando batalhas dignas das descrições que o poeta Homero fez na Ilíada. E eu? Eu ficaria louca!
Era segurar demais a libido, a tensão, a vontade, o desejo – e você sabe, desejo que fica guardado dentro do peito vira fixação!
Agora aqui, sozinha contando essas histórias, talvez você pense que fui mais uma louca, mas eu te pergunto, e você, o que faria no meu lugar?
Levantaria a saia?
Telefonaria mil vezes?
Dançaria nua em plena praça da República?
Iria num terreiro de umbanda e beberia marafo com um Exu qualquer?
Deixaria uma mancha de batom em seu colarinho a guisa de sabotagem?
Tentaria suicídio?
Um pacto eterno com o demo?
Prepararia um jantar com iguarias da cozinha rancesa?
Daria em cima dele numa festa?
Pediria ajuda aos amigos?
Entrava num curso de filosofia?
Ia tentar o equilíbrio através da ioga?
E você que faria? Então, me diga?
Não faria nada? E como conviver com uma paixão não realizada batendo no peito?
Se o que fiz foi certo ou errado, dane-se!
O beijo foi dado. O ato consumado. Foda-se!
Apenas fiz o que faria uma mulher apaixonada.