terça-feira, 28 de dezembro de 2010

DESCULPEM A BAGUNÇA

DESCULPEM A BAGUNÇA


Desculpem a bagunça, mas estou em obras.

Estou vasculhando meus pensamentos,

os meus velhos e antiquados pensamentos.

Jogando fora os preconceitos,

velhas manias e chatices.


Desculpem a bagunça, mas estou fechado para balanço.

Liquidando o estoque, renovando as minhas estruturas,

acreditando em novos sonhos e guardando os antigos

para um futuro uso.


Desculpem, mais uma vez a bagunça, mas estou em reformas.

Estou reformando a minha cabeça

para dar mis espaço e conforto

às novas ideias, amizades e amores;

uma nova energia

e, quem sabe, um novo amanhã.


*Qualquer dia em ´86 com fé no futuro.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

BOLAS DE NATAL

BOLAS DE NATAL

“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco.”

Mt 1, 23.

Quando eu era pequeno, na casa de meu pai havia uma árvore de Natal toda prateada, que era montada todo fim de ano.

A árvore deveria ter um metro e poucos de altura. Para mim era enorme! Quando somos pequenos o mundo é um lugar onde tudo é grande. Eu via aquela árvore de Natal com alegria, pois a sua presença significava que os presentes estavam a caminho.

Hoje em dia, com um discernimento mais apurado que tenho, analiso que aquela árvore nada mais era do que um cabo de vassoura pintado de prata encaixado em uma base também prateada. No cabo havia pequenos furos onde eram encaixados os galhos que nada mais eram do que pequenas vassouras piaçavas pintadas de prateado.

Hoje vejo como horrorosa era aquela árvore de Natal!

O que realmente me encantava era o ritual de retirar das caixas as bolas de Natal que iriam ser penduradas nos galhos da árvore prateada.

As bolas estavam embrulhadas em jornal para não se quebrarem, pois eram feitas de vidro, com um material parecido com o de lâmpadas fosforescentes. As bolas eram frágeis e, se fossem ao chão, quebrar-se-iam. E ano após ano era feito esse ritual de armar e desarmar a árvore, desembrulhar e embrulhar as bolas e celebrar o Natal; o que seria da vida sem esses pequenos rituais?

Hoje em dia não há mais bolas de Natal assim, e o Natal tem outra face – algo mais norte-americano. As bolas do Natal de hoje são de plástico, e podem ser substituídas seguindo o conceito da descartabilidade. E enfeites de Natal podem ser encontrados em qualquer lojinha do centro da cidade.

Acaba-se o encanto, o ritual, e a vida fica mais mecânica e sem brilho. Uma vida mais prática, objetiva, direta. Sem um romantismo que se perdeu décadas atrás.

O estado de fragilidade das bolas de Natal da minha infância, foi substituído pelo efêmero, pela mentalidade do one-way – e não só as bolas de Natal, mas as pessoas também. Tudo gira em torno de uma novidade que nunca vem, mas não para de chegar.

O meu Natal de hoje tem uma pequena árvore, de uns quinze centímetros, e outras bobagens como luzes pisca-pisca, um Papai Noel gordo subindo uma escada, um pequeno presépio; coisas que meu filho gosta.

Sei que daqui alguns anos, ele também vai se lembrar dessa pequena árvore, das luzes que não cessam de piscar, do pequeno presépio, e vai sorrir de alegria da lembrança que tudo isso traz.

FELIZ NATAL A TODOS!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

MORRA MARIA ELISA, MORRA!

AVISO AOS LEITORES:

Antes de ler, pense: Quem nunca sofreu por amor? Quem nunca se apaixonou, teve seu coração partido e desejou que a pessoa amada moresse?
Esse poema fala sobre isso, sobre a dor de amor e a vontade de se matar o objeto de sua paixão.
No lugar de Maria Elisa, coloque Ana, JOana, Beth; qualquer nome serve, pois os entimento é imutável.


MORRA MARIA ELISA, MORRA!!!

Morra sifilítica, anoréxica, com sangue explodindo em golfadas de dentro de sua boca mas, Morra. Morra indigente, louca internada em uma clínica psiquiátrica entupindo-se de remédios calmantes e anabolizantes. Morra de câncer no esôfago, com um tiro no meio da cabeça, com as tripas e vísceras expostas em praça pública. Que teu fígado, teus rins, teu baço, teus intestinos sejam devorados por uma matilha de cães famintos. Morra empalada por uma lança de marfim com ponta de cobre azinhavrada, mas Morra; sua infeliz, sua filhadaputa, macaca, quenga, vagabunda, Morra!!! Morra sozinha, entrevada em uma cama sofrendo dores que nem morfina pode acalmar, Morra de um aborto mal feito, de um parto de sete meses, Morra! Morra sua medíocre, sua megera, sua insensível, sua piranha! Que você Morra com o teu veneno consumindo as tuas entranhas. Que você Morra esquecida num canto, que no teu velório nem as moscas queiram inalar o odor putrefato que você vai exalar, sua babaca! Que a morte lhe venha rápida, mas que seja lenta e agonizante. Que você sinta as piores, maiores, atrozes, estressantes, lancinantes, perfurantes e mortais dores que uma pessoa ruim e má como você merece sofrer ao morrer, mas Morra! Morra!! Morra!!! Morra violentada, estuprada, sodomizada por um bando de marginais. Seja atropelada por um caminhão Volvo a 140 quilômetros por hora, que você seja aberta no meio, que você fique paralítica, tetraplégica, sem nenhum movimento da cintura para baixo e se suicide de desgosto e depressão, mas me faça um favor Morra!

Que o seu exame de sangue dê HIV positivo, que você definhe pouco a pouco morrendo de uma simples gripe sua puta!

Mas, me faça um simples favor:

MorraMorraMorraMorraMorraMorraMorraMorra!!!

domingo, 28 de novembro de 2010

ORA et LABORA

ORA ET LABORA

“[...] falo aos homens e às mulheres do mundo contemporâneo, sem tempo, sempre com pressa e sem tempo, com pressa e fazendo contas; falando ao celular, enquanto fazem contas, correndo; assim como insetos assustados que correm em busca do repouso oferecido pela sombra e pelo esquecimento. E no futuro, sonhando com a vida silenciosa na forma de pedra. Uma pedra que pressente a divindade.”

LUIZ FELIPE PONDÉ in “Contra um mundo melhor- Ensaios do afeto”.

Fique agora aqui ao meu lado.

Olhe ao longe e escute o som

da maré subindo

subindo

subindo....

Espere chegar o momento certo

Para descer da rocha

E silenciar o pranto.

Ser como o silêncio da pedra eterna.

Orar como ela dia após dia.

Entoar loas, lamentos de saudade

e sofrer só pelo que deve ser sofrido;

A vida não exige mais do que isso.

Espere

e ore em silêncio.

O amor sabe o que tem que ser feito

para poder ficar.


* Para N., até o fim da minha vida eu sempre irei te amar; mais e melhor a cada momento.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

AROMAS NÃO DEVEM SER EXPLICADOS

AROMAS NÃO DEVEM SER EXPLICADOS

Alguém poderia me dizer

como descrever o cheiro de terra molhada

depois de uma chuva de verão?

O cheiro da manga rosa cortada.

Da pêra mordida com seu suco a escorrer pelos lábios.

O aroma do orvalho ao primeiro sinal da manhã.

Como descrever o cheiro de maresia

que gruda na pele como uma tatuagem de verão?

Tente me dizer o que é sentir o cheiro da roupa lavada pela mãe

da rosa ainda em botão;

da tinta que forma as palavras no papel;

da cabelo longo, liso lavado com xampu de jojoba;

do vento que anuncia a tempestade que vai chegar.

Se alguém souber, por favor, diga-me como colocar isso

em palavras, frases, expressões.

E como dizer do aroma mais fundo,

mais profano e mais fecundo.

Aquele que sai do meio, da genitália, do púbis sedento

da mulher amada.

Aquele cheiro que desperta a paixão, o animal contido,

inebria e libera o descontrole

a violência, o dente que morde com mais vontade,

o vai e vem mais rápido, o quadril

que se mexe com mais ardor e velocidade

para o gozo logo chegar e nunca se acabar.

A mão fica mais pesada

e deixa marcas roxas nas coxas largas

de mulher que quer o gozo e o busca sem pensar.

Como descrever tudo isso?

Aromas são impossíveis de serem explicados

É algo simples como respirar:

Inalar, segurar o momento, exalar.

Simples como amar.

* Para N., pois depois que senti o aroma de seus meios nunca mais fui o mesmo.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A NOITE MAIS ESCURA E DENSA

A NOITE MAIS ESCURA E DENSA

Quando eu me encontrava preso
Na cela de uma cadeia
Foi que vi pela primeira vez
As tais fotografias
Em que apareces inteira
Porém lá não estavas nua
E sim coberta de nuvens...

[...]Eu sou um leão de fogo
Sem ti me consumiria
A mim mesmo eternamente
E de nada valeria
Acontecer de eu ser gente
E gente é outra alegria
Diferente das estrelas...

CAETANO VELOSO in “Terra”

Na noite mais escura

e densa da minha alma,

eu estava sozinho na minha cela

lendo um livro.

Virava lentamente as páginas

e aos poucos comia as letras,

as palavras, as frases, os parágrafos

e formava imagens na minha mente:

“A rua Post estava vazia quando Spade saiu. Andou um quarteirão na direção leste, atravessou a rua, andou dois quarteirões, pelo lado oposto..”.¹

Na solidão da minha cela

lia e imaginava como seria a vida lá fora:

- Sol no rosto.

Cheiro de fumaça de escapamento.

Calçadas entupidas de pessoas.

Barulho de buzinas.

Nuvens se esparramando pelo céu...

Eu lia e cada vez mais

ficava deprimido.

Deprimido com o silêncio,

com a fraca lâmpada que mal iluminava

as páginas do livro, as paredes

secas, nuas e cruas

assim como o seu coração.

Na noite mais escura

e densa de minh´alma,

eu estava sozinho na minha cela

lendo um velho romance policial

E os fantasmas do meu passado,

aqueles que não consegui enterrar;

Faziam fila no corredor

para de novo me assombrar.

Na noite mais escura

e densa de minh´alma,

eu estava sozinho na minha cela

com um velho livro na mão.

E você,

você que eu tanto amo e necessito,

você não estava lá.

*Poesia escrita dia 21/09/2010, um dos dias mais tristes da minha vida.

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1. HAMMET, Dashiel (1984) “O Falcão Maltês”; trad. de Ruy Castro. RJ:Brasiliense.