domingo, 4 de setembro de 2011

UMA TARDE COMUM, NUM CAFÉ COMUM, UM CASAL COMUM

UMA TARDE COMUM, NUM CAFÉ COMUM, UM CASAL COMUM

“Ela deixou que a mão dele descesse até abaixo da cintura dela. E numa batida mais forte da percussão, num rodopio, girando juntos, ela pediu: - Deixa eu cuidar de você? Ele disse: - Deixo.”

CAIO FERNANDO DE ABREU.

Eu vou querer um espresso e uma torta de limão, e você? Ele queria o mesmo que ela havia proposto. Três e pouco da tarde, uma tarde quente, um café escolhido pela proximidade para o encontro. Um café comum, não era um Starbuck´s, um Fran´s ou Viena, um café comum, numa rua comum, num sábado comum.

O café era um local um tanto quanto escuro e se encontrava vazio àquela hora da tarde. Uma ou duas pessoas perdidas pelo salão. Sentaram-se, e enquanto esperavam o seu pedido, iniciaram a conversar. Falavam de tudo, do tempo, de literatura, de cinema, fofocas, neuroses, piadas, os problemas da vida, da própria vida em si e tudo que isso acarreta. Eles sabiam que não iriam para casa juntos.

Não dormiriam juntos.

Não acordariam juntos.

Por isso tinham tanto a se dizer. Quem mora junto não conversa assim, olho no olho e em profusão. Quem mora junto sabe o tempo que tem pela frente: uma noite inteira, a semana a começar, a vida inteira; eles, eles não tinham essa certeza.

Naquela tarde comum, num café comum, mãos entrelaçadas por sobre a mesa, um olhar preso no outro. Eles eram um do outro e sabiam que tinham pouco tempo pra diversão; essa diversão que vem do amor mútuo, verdadeiro, um amor vivido juntos.

Tinham tudo que um homem e uma mulher queriam um do outro numa relação: cumplicidade, confiança, amor, tesão, amizade, sexo bem feito e paixão, muita paixão.

Iriam se separar daí a pouco. Iria doer. Iriam sentir falta um do outro, do toque, da pele, dos lábios, dos dedos. Saberiam quando poderiam se encontrar novamente? Talvez sim, talvez não. Mas não tinham medo, confiavam no desejo que nutriam um pelo outro, porque o amor que tinham era raro, era sólido.

(Ela se levantou. Ele a abraçou pela cintura. A segurou forte, como macho que sabe que fêmea que tem. Com olhos marejados disse, Eu te amo - o tempo para nesse instante).

O espresso chegou, a torta de limão também. Continuaram a conversar naquela café comum, naquela tarde comum, num sábado comum. Saboreavam o momento, pois sabiam, ele não iria durar.

*para N., o amor da minha vida.

2 comentários:

  1. que coisa linda!
    Intenso, como sempre, mas com muito mais leveza.
    Te admiro.
    Continue, o mundo precisa desse olhar!

    bjs

    Jaque X.

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  2. Singelo e tocante!
    Você expressa seus sentimentos de uma forma maravilhosa!

    Parabéns.

    Abraço

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