CARDUME
Eu conheço esse vento que veio de longe.
Foi esse vento que me trouxe a notícia
da morte de meu pai.
Vento forte que movimenta as nuvens
e traz a chuva lenta, meiga, torrencial, bruta.
Uma morte estúpida
como são todas as mortes.
A chuva que incessantemente cai
repõe as lágrimas perdidas.
Enxugamos os olhos com o dorso
de mãos pesadas
e colocamos nos dedos os anéis
dos dias da semana que não vivi com meu pai
para sempre intocados.
Foi esse mesmo vento que trouxe consigo
um cardume de memórias antigas, doentias, ancestrais.
Memórias que nadam como peixes
em mares antes calmos
e agora agitados pelas ondas do passado.
O vento, essa manifestação eólica,
uma hora para de soprar, esvanece, desaparece;
Uma hora ele sossega.
Mas a água, essa nunca cessa de cair do céu,
das nuvens, dos olhos.
Escorre e se esgueira até a soleira da porta
trazendo o cardume de peixes.
Memórias daqueles que nos deixaram
e insistem, de quando em quando, em se sentar à mesa de jantar.
Adorei esta poesia...muito boa.
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