domingo, 14 de agosto de 2011

CARDUME

CARDUME


Eu conheço esse vento que veio de longe.

Foi esse vento que me trouxe a notícia

da morte de meu pai.


Vento forte que movimenta as nuvens

e traz a chuva lenta, meiga, torrencial, bruta.

Uma morte estúpida

como são todas as mortes.


A chuva que incessantemente cai

repõe as lágrimas perdidas.

Enxugamos os olhos com o dorso

de mãos pesadas

e colocamos nos dedos os anéis

dos dias da semana que não vivi com meu pai

para sempre intocados.


Foi esse mesmo vento que trouxe consigo

um cardume de memórias antigas, doentias, ancestrais.

Memórias que nadam como peixes

em mares antes calmos

e agora agitados pelas ondas do passado.


O vento, essa manifestação eólica,

uma hora para de soprar, esvanece, desaparece;

Uma hora ele sossega.


Mas a água, essa nunca cessa de cair do céu,

das nuvens, dos olhos.

Escorre e se esgueira até a soleira da porta

trazendo o cardume de peixes.

Memórias daqueles que nos deixaram

e insistem, de quando em quando, em se sentar à mesa de jantar.

Um comentário: