quinta-feira, 21 de julho de 2011

FAZENDO ARROZ

FAZENDO ARROZ

“[...] a obra, no que tem de significativo, é um todo que se explica a si mesmo, como um universo fechado. Este estruturalismo radical [...], é inviável no trabalho prático de interpretar, porque despreza entre outras coisas a dimensão histórica, sem a qual o pensamento contemporâneo não enfrenta de maneira adequada os problemas que preocupam.”

ANTONIO CANDIDO in `Literatura e Sociedade´.

Recentemente me separei pela segunda vez. Acabei com o meu segundo casamento. Sim, pode me execrar, falar mal de mim, exaltar essa instituição chamada casamento (pode não parecer, mas eu acho que casar é uma boa, isso se você achar a pessoa certa e adequada aos seus instintos e manias, mas isso é papo pra outra crônica); falar que tem que se manter a estabilidade de um casal a qualquer custo, que não pensei nos filhos, blá blá blá. Pronto? Falou tudo que queria?

Ok,vamos em frente! Como estava a dizer recentemente me separei e estou vivendo uma vida de solteiro. Aos poucos começo a adquirir minha independência – é nesse ponto que as mulheres, as esposas, mães erram, nessa necessidade matriarcal de criar homens dependentes da figura feminina. Não sei se algo feito intuitivamente ou de propósito, ou seja, para dominar mesmo o sujeito, tê-lo sob seus pés ou como já ouvi por aí: ´comendo na minha mão!´.

Bom, cada um, cada um. Se as pessoas acham que amor se confunde com posse e dominação, fazer o que, né? Mas depois não venha me reclamar que seu marido é um bebê chorão, um mandão, que não faz nada sem a sua presença, e quando você quer que ele lhe acompanhe em algum programa, tem jogo do Corinthians na TV e ele não pode perder.

Pessoas são diferentes. Tem gostos, ideologias, vontades, desejos, aspirações e necessidades que são pessoais, de cada um. Não adianta impor sua vontade, não adianta querer mandar no ego do outro, porque uma hora ele vai escapar, como areia por entre seus dedos. Independência entre os membros de um casal é saudável.

Eu, nesse novo momento de minha vida, estou adquirindo pouco a pouco a minha independência. Fui casado durante dez (!?) anos com uma mulher dominadora, castradora que não permitia que me aventurasse nos afazeres domésticos. Eu achava que nunca conseguiria fritar aipim ou lavar uma camisa de tão intrincado que o processo se mostrava pra mim. Agora, dentre as personas que em mim habitam, estou deixando aflorar mais uma, ´dono de casa´.

Lavo e passo minhas camisetas, camisas, calças, cuecas, toalhas, roupa de cama; vou à feira compro tomates, batatas, ovos, cenouras, couve-flor, cebola, alho, tangerinas, maças e encerro o tour com um pastel, em pé, na barraca do japonês. Estou aprendendo a cozinhar – descobrir sem pressões ou cobranças esta nova faceta em mim está sendo bom, está sendo terapêutico. Saber que você é capaz de sempre se reinventar é um sinal da capacidade que o ser humano tem de superar a si próprio e as suas expectativas.

Por enquanto minhas aventuras na culinária se resumem ao trivial – ouvi dizer que ao conseguir fazer um arroz e um feijão caprichados, você está habilitado a alçar voos mais altos e audazes.

Posso fritar um aipim, fazer um pastel de queijo, montar uma bela salada, temperar e fritar um bom filé de frango, mas havia algo que demorei a acertar, arroz. Das coisas simples de se fazer na culinária, fazer arroz mostrava ser, ao menos pra mim, algo simples e complicado ao mesmo tempo. Fazer arroz é simples:

1°) Pegar um dente de alho e esmigalhar, com casca e tudo, com o cabo de uma faca, coisa de macho!;

2°) Esquentar um pouco de óleo numa pequena panela, jogar o alho esmigalhado e deixar dourar. Retirar o alho, como dizem os mineiros, ´casca o aí, quenta o ói, joga o ái no ói!´;

3°) A medida de arroz pra uma pessoa é um copo, de água são dois copos e meio;

4°) Enquanto você está esmigalhando o alho, colocando o óleo pra esquentar, dourando et cetera et al; esquente no microondas a medida de água por uns 4 minutos;

5°) Pegue a medida de arroz e coloque no óleo onde você dourou o alho. Misture e coloque sal a gosto – experimente a água pra ver se está bom de sal. Tampe e deixe secar a água.

Simples, não?

Pois o primata aqui queimou três ou quatro panelas de arroz, colocou sal demais, óleo demais, até que consegui! Fiz um arroz decente.

Para quem está acostumado a cozinhar pode até dizer, e daí? E daí, nada; mas para quem está em busca de sua independência, de sua liberdade; em busca de um novo caminho na vida, é tudo!

Não pense que a vida é algo hermético, um universo fechado a toda e qualquer mudança. A vida tem esse conceito de organicidade, de ser um organismo vivo que reage aos fatores externos que a condicionam e motivam.

O caminho para felicidade é simples. Aceite o novo, aceite que a sua vida pode mudar. Abrace as oportunidades que surgirem em seu caminho. Não se apegue as coisas materiais, porque no fim é só dinheiro – it´s just money. Mergulhe dentro de si, dentro do seu ego, do seu interior e caia sem redes de segurança. Tenha paciência consigo mesmo, tudo leva tempo e tudo a seu tempo.

Ser feliz, às vezes, pode ser tão simples como se fazer um bom arroz.

2 comentários:

  1. Gostei bastante do seu blog e dos seus textos, professor.
    Parabéns.

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  2. Eu tambem me separei pela segunda vez, e tambem estou ralando para aprender a trocar pneu do carro, coisa que para quem sabe parece simples.

    Crystal

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