segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A NOITE MAIS ESCURA E DENSA

A NOITE MAIS ESCURA E DENSA

Quando eu me encontrava preso
Na cela de uma cadeia
Foi que vi pela primeira vez
As tais fotografias
Em que apareces inteira
Porém lá não estavas nua
E sim coberta de nuvens...

[...]Eu sou um leão de fogo
Sem ti me consumiria
A mim mesmo eternamente
E de nada valeria
Acontecer de eu ser gente
E gente é outra alegria
Diferente das estrelas...

CAETANO VELOSO in “Terra”

Na noite mais escura

e densa da minha alma,

eu estava sozinho na minha cela

lendo um livro.

Virava lentamente as páginas

e aos poucos comia as letras,

as palavras, as frases, os parágrafos

e formava imagens na minha mente:

“A rua Post estava vazia quando Spade saiu. Andou um quarteirão na direção leste, atravessou a rua, andou dois quarteirões, pelo lado oposto..”.¹

Na solidão da minha cela

lia e imaginava como seria a vida lá fora:

- Sol no rosto.

Cheiro de fumaça de escapamento.

Calçadas entupidas de pessoas.

Barulho de buzinas.

Nuvens se esparramando pelo céu...

Eu lia e cada vez mais

ficava deprimido.

Deprimido com o silêncio,

com a fraca lâmpada que mal iluminava

as páginas do livro, as paredes

secas, nuas e cruas

assim como o seu coração.

Na noite mais escura

e densa de minh´alma,

eu estava sozinho na minha cela

lendo um velho romance policial

E os fantasmas do meu passado,

aqueles que não consegui enterrar;

Faziam fila no corredor

para de novo me assombrar.

Na noite mais escura

e densa de minh´alma,

eu estava sozinho na minha cela

com um velho livro na mão.

E você,

você que eu tanto amo e necessito,

você não estava lá.

*Poesia escrita dia 21/09/2010, um dos dias mais tristes da minha vida.

__________________

1. HAMMET, Dashiel (1984) “O Falcão Maltês”; trad. de Ruy Castro. RJ:Brasiliense.

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