A NOITE MAIS ESCURA E DENSA
Quando eu me encontrava preso
Na cela de uma cadeia
Foi que vi pela primeira vez
As tais fotografias
Em que apareces inteira
Porém lá não estavas nua
E sim coberta de nuvens...
[...]Eu sou um leão de fogo
Sem ti me consumiria
A mim mesmo eternamente
E de nada valeria
Acontecer de eu ser gente
E gente é outra alegria
Diferente das estrelas...
CAETANO VELOSO in “Terra”
Na noite mais escura
e densa da minha alma,
eu estava sozinho na minha cela
lendo um livro.
Virava lentamente as páginas
e aos poucos comia as letras,
as palavras, as frases, os parágrafos
e formava imagens na minha mente:
“A rua Post estava vazia quando Spade saiu. Andou um quarteirão na direção leste, atravessou a rua, andou dois quarteirões, pelo lado oposto..”.¹
Na solidão da minha cela
lia e imaginava como seria a vida lá fora:
- Sol no rosto.
Cheiro de fumaça de escapamento.
Calçadas entupidas de pessoas.
Barulho de buzinas.
Nuvens se esparramando pelo céu...
Eu lia e cada vez mais
ficava deprimido.
Deprimido com o silêncio,
com a fraca lâmpada que mal iluminava
as páginas do livro, as paredes
secas, nuas e cruas
assim como o seu coração.
Na noite mais escura
e densa de minh´alma,
eu estava sozinho na minha cela
lendo um velho romance policial
E os fantasmas do meu passado,
aqueles que não consegui enterrar;
Faziam fila no corredor
para de novo me assombrar.
Na noite mais escura
e densa de minh´alma,
eu estava sozinho na minha cela
com um velho livro na mão.
E você,
você que eu tanto amo e necessito,
você não estava lá.
*Poesia escrita dia 21/09/2010, um dos dias mais tristes da minha vida.
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1. HAMMET, Dashiel (1984) “O Falcão Maltês”; trad. de Ruy Castro. RJ:Brasiliense.
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