domingo, 28 de março de 2010

PRA CADA SITUAÇÃO HÁ UMA CANÇÃO

PRA CADA SITUAÇÃO HÁ UMA CANÇÃO

Uma canção que me faz lembrar minha juventude em Campo Grande é Nada Mais. Eu era muito tímido, mais do que sou hoje em dia, e eu me lembro que ia a festinhas quando o meu irmão liberava a velha Brasília herança de meu pai, além de ´ régua e compasso´¹.
Eu, naquela época, em minha a imatura mente de garoto de vinte anos, acreditava que por estar motorizado conseguiria ter sucesso com as meninas, porém, isso não acontecia. Invariavelmente voltava para casa sozinho e arrasado! E me perguntava:
Será que sou muito feio?
Tenho mau hálito?
Meu papo é chato?
Sou grudento?
Por que não consigo uma menina?
E isso me lembrava de uma canção do grupo britânico The Smiths:

If you´re so very entertaining
Why are you on your own tonight?
If you´re so terribly good looking
Then why do sleep alone tonight?²
´I Know it´s over´Morrisey & Mars.

Mas isso é uma outra história que eu já contei.
E num desses meus solitários retornos de festas, lá vinha eu, sozinho, descendo a avenida Afonso Pena, na velha Brasília que havia sido de meu pai. Três da manhã, a cidade deserta e os espíritos errantes se arrastavam pela madrugada esperando o cantar do galo que, dizem, envia as almas sem luz de volta ao buraco de onde vieram.
Decidi então ligar o rádio do carro pra escutar uma música. Sintonizo na FM Canarinho – naquela época Campo Grande tinha três estações de rádio FM, e eu gostava mais da FM Canarinho.
O carro é inundado pela voz da Gal Costa “...vão dizer que são tolices que podemos ser felizes, mas tudo que eu sei..”; a canção era Nada Mais uma versão da
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1. Aquele Abraço Gilberto Gil.
2. Se você é tão divertido, porque está sozinho hoje a noite. Se você é tão bonito assim, porque dorme sozinho hoje a noite?

música Lately de Stevie Wonder.
Eu, naquele momento de solidão, uma solidão enorme, bruta, juvenil, isolado numa cidade no centro do Brasil, descendo sozinho uma solitária avenida numa velha Brasília de meu falecido pai; inserido nesse contexto eu me senti o último homem da face da Terra!
Por quê? Porque não conseguia uma namorada? Eu me visto mal? Não danço bem? Sou agressivo no meu approach? Onde estava o erro eu me indagava e me angustiava.
Eu era, e ainda sou um animal romântico e sonhador. Não sabia, e nem sei até hoje, como paquerar e ´chegar´ numa garota. Minha conversa era muito didática e os assuntos eram monótonos. As meninas queriam um ´cara´ mais agressivo, mais brutalizado, mais rude e com uma conversa básica.
Nunca fui esse tipo de ´cara´. Não sou esse tipo de ´cara´. E por isso sofria, e ainda sofro.
Cresci, não teve outro jeito, era inevitável. Livrei-me de alguns traumas, arranjei outros tantos. Casei, separei, tive filhos, enfiei o pé na jaca, apaixonei-me muitas vezes pela garota errada e virei o que eu era destinado a ser, mas aquele garoto de vinte e poucos anos continua a subir e descer a avenida às três da manhã, solitário depois da festa ainda tentando descobrir como se faz para se ganhar uma namorada.

Nada Mais
Sinto quando alguém te interessa
Mesmo quando finges que não vês
Se desapareces numa festa, eu já sei
Não te quero ouvir falar do tempo
Se eu só pergunto onde vais
Mas se quiser saber se voltas logo
You Don’t know, nada mais
Vão dizer que são tolices
Que podemos ser felizes
Mas tudo que eu sei
Não dá prá disfarçar
Desta vez doeu demais
Amanhã será jamais
Onde a gente vai tem uns amigos
Que você precisa visitar
Se não sou feliz são só ciúmes, nada mais
Mais de uma vez flagrei seus lábios
Na intenção do nome de outro alguém
Mas se quiser saber porque eles calam
Você diz: -”Tudo bem”
Vão dizer que são tolices
Que podemos ser felizes
Mas tudo que eu sei
Não dá prá disfarçar
Desta vez doeu demais
Amanhã será jamais
(Ronaldo Bastos e Stevie Wonder)

3 comentários:

  1. Olá,Prof. Alexandre!
    Você é um homem muito romântico, agora fica bem
    mais claro, porque as pessoas se apaixonam por sua
    sensível amizade. Você é uma Tulipa azul...raríssima.
    "Eu era, e ainda sou um animal
    romântico e sonhador"

    Adorei sua voz nessas palavras!

    Beijos.

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  2. Pra te confortar querido: naquela mesma avenida, na mesma cidade, na mesma época e por várias vezes fui invadida por tal sensação...Hoje sei que um dos nomes pra isso seria: ANSIEDADE.

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