sábado, 19 de junho de 2010

FUI A MISSA

FUI A MISSA

Eu precisei de Deus. Ele me foi dado, e eu o recebi sem compreender direito o que estava procurando. Então, porque meu coração não deixou que ele lançasse ali suas raízes, Deus terminou morrendo em mim.
Hoje quando o mencionam, eu digo, como se fosse um velho, tentando reviver uma velha chama: há 50 anos atrás, se não houvesse um mal-entendido, se não houvesse certos equívocos, se não houvesse o acidente que terminou nos separando, nós dois teríamos um belo caso de amor.
JEAN-PAUL SARTRE in As Palavras.

Hoje eu fui à missa.
Rompi com a religião católica tempos atrás. Execro seus padres midiáticos e seus jingles que somente exortam o louvor. Essa igreja arcaica e medieval com os seus dogmas, ritos e preconceitos. Quando fiz a minha graduação em Letras, tive um professor padre (fiz Letras numa faculdade católica) que definia assim a Igreja Católica: “A Igreja Católica é um verme que num fria manhã de inverno, acordou, se espreguiçou e, vendo que estava muito frio, voltou a dormir.” Não me esqueço disso até hoje, e ele era padre.
Acredito em Deus, acho que quando não há mais uma explicação pela lógica a um fato ou acontecimento o que se pode dizer? É Deus!
E hoje, de minha livre e espontânea vontade, fui à igreja. Assisti à missa direitinho e me fez um bem fazer isso. Gostei das leituras, do sermão feito pelo padre, já idoso e que rezava a missa de olhos fechados.
Este reencontro me fez bem. A fé se manifesta nestes momentos em que desarmados e de coração aberto vamos ao encontro de Deus, da palavra sagrada; e a necessidade de se fazer isso vem do inexplicável. Qual seria a vontade que me fez numa fria manhã de domingo levantar-me cedo e ir assistir uma missa às oito e meia da manhã? Veio muito menos pela obrigação, pois há tempos não freqüentava a igreja, do escambo (se você for à missa ganhará o reino dos céus) ou pela imposição que é como as religiões entram na vida das pessoas.
Ter ido a missa foi pela minha própria vontade, da vontade de estar em paz, de fazer o bem a si mesmo e aos outros, de acreditar e agradecer as graças recebidas. Acho que é mais ou menos por aí que as coisas devem ser feitas.
E hoje durante a missa voltei aos meus dez, doze anos de idade quando eu estudava no colégio Salesiano Santa Rosa em Niterói. Era um colégio católico (como há de se notar, educação e catolicismo sempre estiveram juntos em minha vida) e, uma vez por ano tínhamos a missa da nossa turma.
Era um dia especial, pois podíamos ir sem uniforme (sou do tempo em que se você não fosse de uniforme completo à escola você voltava pra casa do portão!), o grupo estava unido, fazíamos brincadeiras tirando um pouco da seriedade dos ritos católicos. A missa era realizada na capela interna do colégio e era bom, muito bom. Hoje me relembrando disso vejo que Deus ali, naquele momento, estava se manifestando; fiquem alegres no Senhor! Repito: fiquem alegres¹.
E hoje fui à missa. Fiz as pazes com a igreja católica, com Deus, comigo mesmo, voltei a ser aquele garotinho que ia, sem uniforme, às missas na capela interna de um colégio católico em Niterói.
Amém.









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1. Filipenses 4.4.

domingo, 13 de junho de 2010

MEET ME IN THE MORNING

MEET ME IN THE MORNING¹
I haven't come to be a stranger
I haven't come to break your home
I haven't come to harm your children
I've come to be your love*
Everything But the Girl

* Eu não vim para ser um estranho
Eu não vim para quebrar sua casa
Eu não vim para prejudicar seus filhos
Eu vim para ser o seu amor


Naquela hora em que a escuridão da madrugada ainda não se foi, ainda está bem friozinho e o dia vai se ´quebrando²´ aos poucos formando uma faixa laranja no horizonte.
Nessa hora vá ao meu encontro. Eu vou lhe chamar, e onde quer que você esteja vá ao meu encontro, me abrace forte e sussurre em meu ouvido que eu sou somente seu e de mais ninguém.
Eu vou lhe chamar. Largue tudo! Esqueça os seus horários, o ponto a ser assinado na firma, a praia que promete acontecer nesse domingo, o jornal a ler, o pão de queijo do café da manhã.
Esqueça tudo isso e apenas atenda o chamado e vá; simplesmente vá, pois você é meu amor, é o amor a lhe chamar, a lhe querer, e lhe desejar; desejar você dentro de mim, ereto, eterno, rígido, só meu. E lento o gozo virá em camadas. Espesso no inicio, depois borbulhante e com tremores a me cobrir das pernas a cabeça. Uma fina malha de gemidos e tremores tomará conta de mim e fluidos vão escorrer pelos meus meios.
Venha, meu menino, eu não vou quebrar o seu coração, confie em mim, sei que você tem medo, que você já passou por isso antes, mas dessa vez pode vir, é de verdade.
Venha, não importa se as pedras são pesadas e difíceis de se carregar.
Venha enquanto o orvalho da manhã está ainda úmido na flor aberta.
Venha, seja o forasteiro a desvendar esses terrenos ainda escondidos.
Venha, o sol se reflete nas janelas dos edifícios, nas janelas dos carros e pouco a pouco a luz vai surgir.
E o dia vai nascer.
A escuridão se dissipará lentamente e eu vou lhe esperar enquanto este péssimo capuccino esfria na xícara a minha frente.

*com todo carinho para N.



NOTAS:
1. Este texto foi inspirado numa epifania ao ouvir a música Meet Me In The Morning do grupo inglês Everything But The Girl:

Watch the vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=qpH2T9-T1VI

Meet me in the Morning EVERYTHING BUT THE GIRL
Meet me in the morning
I'll have the motor running
Down icy lanes, under a glass blue sky
This is living
This is living
I haven't come to be a stranger
I haven't come to break your home
I haven't come to harm your children
I've come to be your love
Don't let the grass grow under your feet
The sands of times keep running
For now at last I'm down on the street
With the engine running
Meet me in the evening
I'll have the log fire burning
Down frosty lanes, under a darkening sky
This is living
This is living
I haven't come to be a stranger
I haven't come to break your home
I haven't come to harm your children
I've come to be your love

ENCONTRE-ME PELA MANHÃ
Encontre-me no período da manhã
Eu vou ter o motor em funcionamento
Descendo pistas de gelo, sob um céu de vidro azul
Isso é viver
Isso é viver
Eu não vim para ser um estranho
Eu não vim para quebrar sua casa
Eu não vim para prejudicar seus filhos
Eu vim para ser o seu amor
Não deixe a grama crescer sob seus pés
As areias do tempo continuam correndo
Por agora, finalmente, eu estou na sua rua
Com o motor em funcionamento
Encontre-me na noite
Eu vou ter o fogo queimando na lareira
Descendo pistas de gelo, sob um céu de vidro azul
Isso é viver
Isso é viver
Eu não vim para ser um estranho
Eu não vim para quebrar sua casa
Eu não vim para prejudicar seus filhos
Eu vim para ser o seu amor


2. Há certas coisas que são bem melhores ditas na língua inglesa. Adoro a expressão, `the ´day is breaking´; que não fica bem traduzida em português, mas quis usar essa expressão ipsis literis no texto pra dar um encantamento melhor ao amanhecer.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

SLIDING DOORS

SLIDING DOORS

O Amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
GILBERTO GIL in “Drão”

Há um filme com a Gwyneeth Paltron chamado “Sliding Doors”, em português o título ficou “De Caso com o Acaso”. Não é, obviamente, a tradução ipsis literis do título original em Inglês; sliding doors, seriam aquelas portas que se abrem automaticamente quando entramos em um shopping center, aeroportos e outros lugares afins.
O filme é si é uma comediazinha romântica meio bobazinha, mas a releitura que se pode fazer com o argumento proposto por ela é até interessante. No filme Paltrow faz uma relações públicas que tem um emprego numa companhia, mora com o namorado e vai ao trabalho de metrô – aí é que entram as sliding doors do título. Pois bem, numa manhã, normal como todas as outras, ela sai de seu apartamento e vai trabalhar deixando o seu namorado no apartamento. Ao chegar ao seu emprego, ela descobre que foi despedida e retorna para casa, pegando novamente o tube de Londres. Nisso o seu namorado a está traindo, no seu próprio apartamento, com outra mulher.
Ao tentar pegar o trem do metrô, acontece uma mágica. Ela é dividida em duas pessoas, uma que consegue pegar o trem e flagrar o namorado com outra e mudar totalmente o seu destino, encontrando um novo namorado, mudando o seu corte de cabelo, abrindo a sua própria empresa de relações públicas e acaba se tornando uma mulher bem sucedida. A sua contraparte, a que não consegue pegar o metrô, não flagra o seu namorado na cama com outra, tenta se sustentar entregando sanduíches e continua morar com o mesmo namorado que a continua traindo. O desfecho do filme não é assim tão emocionante, mas eu posso te adiantar que uma delas morre, e consegue ficar com outra pessoa totalmente diferente.
São os acasos da vida, as portas abrem e fecham sem que nos demos conta e façamos nossas escolhas de vida. Eu, por exemplo, quando saio do meu emprego sempre faço o mesmo trajeto: subo direto a Haddock Lobo, viro a Paulista, pego o metrô e vou-me embora, mas, o que subitamente me faria virar a esquina na Alameda Franca e dar de cara com o amor da minha vida? Uma porta que se abriu para propiciar um momento para que eu fizesse a minha escolha? Ou voltando de um clube num domingo de carnaval entrar na minha caixa postal ao chegar em casa e ler uma mensagem que modificaria a minha vida. Teria sido melhor que eu não a encontrasse a pessoa e a mensagem? Não sei.
Paulo Coelho nos diz que devemos prestar atenção nos sinais que estão a todo o momento a nossa volta, mas nunca estamos abertos o suficiente para percebê-los. Ele conta uma história sobre uma santa a qual ele fez uma promessa e o número de coincidências que o levaram a promessa a se realizar, e como ele pagou essa mesma promessa. Em um de seus livros, Coelho diz que “Certas bênçãos de Deus, chegam estilhaçando as janelas.” Às vezes não se percebe que ao quebrar todas as vidraças, janelas e vitrines existentes na vida, algo pode mudar.
As mudanças acontecem dentro de um processo lento. São mágoas que remetem a infância, a relação com a mãe, a infância muito isolada, é uma gama de fatores que, às vezes pensamos que não estamos a chegar a lugar nenhum, mas o caminho se faz ao caminhar. As mudanças ocorrem, em parte devido à força de vontade em se aprender a ser uma pessoa mais acessível, melhor; outras vezes porque as coisas são assim e tem que acontecer independente da própria vontade.
Por isso ´não se afobe não, pois nada é pra já´*, Cada um sabe o que tem dentro de si, você sabe o que você tem, por isso não apresse o rio, ele corre sozinho. Deixe a mão do destino atue em sua vida, e faça com que você vire uma esquina qualquer, abre sua caixa postal ou que uma sliding door se feche em sua cara e deixe o futuro e o amor de sua vida entrarem definitivamente em sua jornada.











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 Música incidental Futuros Amantes, Chico Buarque.